Casa da Cera continua a reinventar-se 50 anos depois

Reconhecida como uma das imagens de marca no comércio espinhense, a Casa da Cera, situada na rua 4, tem vindo a reinventar-se ao longo dos anos, adaptando-se às exigências dos clientes e à diferente procura pelos artigos religiosos. Aposta no mundo digital foi a grande reviravolta.

Fundada há mais de 50 anos, a loja é hoje gerida por Ricardo Meneses, mas nasceu pelas mãos de Deolinda Guimarães, mais precisamente em 1973, na rua 23.

“A loja manteve-se na rua 23 até 1975, mudando-se, nessa altura, para este local”, conta o proprietário, explicando que acabou por ficar com o negócio depois da morte da fundadora.

“Fui adotado pela irmã da senhora que começou o negócio, embora não de forma legal. Como vivia perto delas e era um apoio, tornei-me família e tudo começou aí”, conta Ricardo, explicando que assumiu as rédeas do negócio após amorte da proprietária, mais precisamente em 1996.

Admitindo que quis dar continuidade ao trabalho desenvolvido, Ricardo Meneses revela que “hoje o negócio é diferente” e relembra que, no passado, segundo relatos de clientes antigos, a loja era conhecida na cidade como “a casa dos santos”, embora, oficialmente, o nome se mantenha até hoje.

Vendas online representam a grande mudança

Confidenciando que a pandemia se tornou na fase mais difícil até hoje, já que o espaço, à semelhança de todo o comércio, viveu dias complicados e fases de encerramento Ricardo não esconde que o negócio teve que dar o passo em frente.

Contando com a ajuda de Marina Sá, colaboradora da loja há cerca de dez anos, a Casa da Cera passou a estar também online, ainda que os primeiros passos tenham acontecido anos antes.

“Em 2010 criámos a nossa página de vendas online, pois senti que isso era importante e atualmente é ainda mais. No entanto, em 2019, com a Covid-19, tivemos que aperfeiçoar ainda mais o site, pois tivemos a porta fechada e esse era o único meio de venda”, conta o proprietário da loja, admitindo que “houve essa preocupação”.

Segundo Marina Sá, “existem encomendas online praticamente todos os dias”, havendo a tentativa de “chegar a toda a Europa e fora também”.

França e Suíça são, a nível internacional, os principais países compradores, segundo a colaboradora, mas a Casa da Cera já vendeu também para o Japão e Estados Unidos. O único país fora dos objetivos é o Brasil, dada a dificuldade no envio das encomendas.

“O nosso principal objetivo é sempre o cliente físico, aquele que vem à loja, mas a verdade é que a cidade tem mudado muito e a falta de estacionamento acabou por prejudicar”, alerta Ricardo Meneses, dizendo que “o comércio local não está nos melhores dias”. Um fator que, segundo Marina Sá, obrigou a um reforço no mundo digital, embora com várias dificuldades.

“O site revelou-se bom para o negócio, mas foi um investimento até a nível de aprendizagem nosso porque não somos da área e não podemos estar constantemente a recorrer a empresas de informática, pois seria insustentável”, afirma Marina Sá, explicando que “todos os dias há atualizações nasredes sociais, por exemplo”.

Novas rotinas e diferentes artigos

Apesar de ser uma loja de artigos religiosos desde a fundação, a Casa da Cera adaptou-se à evolução dos tempos, indo ao encontro das necessidades dos clientes. Além de manter os artigos tradicionais como santos ou velas, a loja passou também a vender outros produtos como decoração, artigos místicos, ervanária, livros e bijuteria.

“Sentimos que o cliente passou a exigir outros artigos e fomos acrescentando opções”, refere o proprietário, explicando que “são os mais idosos que continuam a comprar velas e terços”, enquanto os mais jovens “procuram os livros”.

Apesar da pandemia ter trazido problemas ao funcionamento do negócio, acabou também por afetar na compra dos artigos.

“A procura pela cera baixou muito após a fase da pandemia e além disso o preço também subiu naquela época e nunca mais baixou”, começa por contar Marina Sá, dizendo que houve uma mudança de mentalidade.

“Aquela rotina de ir ao cemitério quase todos os dias desapareceu. Nota-se essa mudança porque se na pandemia estava fechado e as pessoas não precisavam de ir, então agora também não vão”, refere a colaboradora.

Para o futuro, Ricardo Meneses não esconde que o principal objetivo é manter o negócio, apesar de várias dificuldades e de “uma renda alta” a pagar todos os meses. Olhando para trás, afirma que o sucesso da loja “deve-se a todos os colaboradores que já passaram pelo negócio”.